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Ensino

O ensino foi para Francisco Caldeira Cabral uma componente fundamental da sua acção, da sua realização pessoal, da sua forma de ser e de estar, e também do seu legado, na criação de uma nova profissão e na formação de uma geração de estudantes que se consideram não apenas alunos, mas discípulos do Mestre.

Regressado de Berlim, Francisco Caldeira Cabral foi contratado pelo Instituto Superior de Agronomia como professor de Desenho Organográfico e de Construções Rurais, iniciando em 1941, com uma simples autorização do Conselho Escolar, as aulas de Arquitectura Paisagista. Em 1942, conseguiu a aprovação do Ministério da Educação para a leccionação do Curso, ao abrigo do estatuto de Curso Livre, designação que então era dada a conjuntos de disciplinas para além do currículo obrigatório, que conduziam a uma especialização.

O Curso Livre de Arquitectura Paisagista era assim aberto aos alunos inscritos nos cursos de Agronomia ou Silvicultura, acrescentando ao seu currículo, desde os primeiros anos, disciplinas específicas de Arquitectura Paisagista. Desde o início, o curso foi aberto à possibilidade de frequência com outras formações, tendo recebido alguns alunos vindos da Arquitectura. Porém a formação do Arquitecto Paisagista, a par de uma forte componente de formação artística (Desenho, História da Arte, Projecto), foi sempre fortemente ancorada no conhecimento das Ciências da Terra, do Clima e das Plantas.

Esta concepção do currículo corresponde ao mesmo tempo à origem da profissão no ofício de jardineiro e à sua extensão actual ao tratamento da Paisagem, no sentido mais amplo, de equilíbrio ecológico de todos os seus elementos, físicos, biológicos e culturais.

Caldeira Cabral dava também especial valor e relevo ao conhecimento prático, concreto, e ao “saber fazer” do ofício. “Não temos que ter receio ou desagrado de dizer que a nossa arte é a arte do jardineiro; temos que ser jardineiros do Jardim do Mundo, o jardineiro que superintende no conjunto, mas que mesmo assim é jardineiro” (FCC, 1961). E noutro passo: “Depois ou simultaneamente com esta formação académica, penso que é indispensável que os nossos estudantes tenham uma formação prática em jardinagem. É muito importante do ponto de vista da profissão, mas também do ponto de vista pedagógico, porque aquilo que ensinamos e que dizemos é sempre, necessariamente, uma análise, mas a acção é sintética; e se os estudantes não conseguem entender o que dizemos e traduzi-lo em acção, estarão a perder muito tempo e a obter pouco proveito”.

Ao mesmo tempo e “mais que tudo isso, necessita o Arquitecto Paisagista de aprender a ver e a estudar na obra feita as lei permanentes da do homem e da Natureza, procurando tirar da experiência passada a boa técnica para a obra futura” (FCC, 1950). Nesta linha se situava a sua preocupação de se deslocar com os alunos em visitas de estudo e viagens, em que “olhar para a paisagem com o professor era ver e sentir que a informação que tínhamos recolhido nas aulas e nos livros estava ali, diante dos nossos olhos, tomava forma em cada lugar quando caracterizávamos, identificávamos e diferenciávamos cada clima, cada latitude, cada vale ou montanha, cada situação ecológica e socio-cultural …”

Na IFLA, de que foi Vice-Presidente (1960-62) e Presidente de (1962-66), empenhou-se especialmente na definição da profissão e do currículo de formação, tendo sido o Relator deste tema no Congresso de Amsterdão (1960), já que “é muito importante que haja um reconhecimento internacional do que é o arquitecto paisagista, qual deve ser a sua formação e o que lhe compete fazer. Esta definição deve estar bem clara, para que a mesma palavra designe a mesma profissão e uma formação semelhante, em cada país; isto é o que se está a tentar fazer para todas as profissões”.