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Viagem aos EUA

FRANCISCO CALDEIRA CABRAL
Extracto do Relatório de viagem dirigido ao Presidente do Instituto de Alta Cultura, sem data. Recolha de Teresa Andersen.

Fui a convite da Universidade da Califórnia e da Universidade da Georgia, aos Estados Unidos da América do Norte. Depois de dois dias passados em Nova Iorque, e um dia em Washington, em que apenas vi o aspecto exterior das duas cidades, desloquei-me a São Francisco em voo directo, com escala em Dallas. Tive assim ocasião de sobrevoar uma parte apreciável do curso do Mississipi.
Em São Francisco era esperado pelo Professor Leland Vaughan, director da Secção de Arquitectura Paisagista, e também Chairman do College of Environmental Design. Encontrava-se nessa altura de passagem na mesma faculdade, o colega Dinamarquês Sven Hansen, de viagem para o Japão.
Depois de ter sido apresentado a todo o corpo docente, de que junto uma nota, trabalhei com os alunos durante oito dias em trabalhos de seminário, e realizei no dia 28 de Março um colóquio com o colega Sven Hansen, sobre o tema: ‘Perspectivas da Arquitectura Paisagista na Europa’. Nesse Colóquio tomaram parte, além dos Professores e alunos da Universidade, vários Arquitectos Paisagistas de São Francisco.
No dia 30 de Março dirigi outro colóquio sobre Planeamento – ‘Aspectos de Planeamento Agrícola e Florestal, e Planeamento Urbano em Portugal’, e trabalhei com os estudantes do Seminário de Urbanismo e Arquitectura Paisagista.
Realizei várias excursões nos arredores de Berkeley, para ver os jardins e parques mais recentes e tomar contacto com alguns problemas de Urbanismo. Noutro dia, visitei com o Professor Vaughan os ateliers de Arquitectos Paisagistas mais em evidência em São Francisco, Thomas Church, Halprin e Osmundson. Realizei finalmente, em 2 de Abril, uma conferência pública sobre o tema: ‘A arquitectura paisagista em Portugal’.
Encontrei-me também com o Professor Mitsuo Yokoyama, da Universidade de Tóquio, com quem troquei primeiras impressões sobre o futuro Congresso da Federação Internacional dos Arquitectos Paisagistas, que se realizará no Japão em 1964. Finalmente com o Professor Vaughan e Sven Hansen visitei numa excursão de dois dias o Parque Nacional de Yosemite – um dos mais notáveis da Califórnia – e vi a organização dos visitantes: acampamentos, restaurante, museu, capelas, assistência de divulgação cientifica, organização desportiva (pesca, ski, passeio). Pude também apreciar a variação de aspectos da vegetação, desde a costa até às matas de Sequioadendrom giganteum.
Tive a oportunidade nessa mesma excursão de atravessar o Vale de São Joaquim, e assim ver a zona de grande exploração frutícola da Califórnia, bem como os extensos regadios e as cidades características desta zona, Merced, Modesto e Tracy. Por fim atravessámos a zona de pastagem das colinas costeiras (Coastal Range) e regressámos a São Francisco.
De São Francisco dirigi-me a Los Angeles, onde me esperava um velho condiscípulo, Andres Polusaar, da Universidade de Berlim, com quem pude visitar os Serviços Municipais de Arquitectura Paisagista, em que trabalha, e ver rapidamente as principais zonas verdes de Los Angeles. Visitei também um dos maiores cemitérios particulares da cidade e o Horto Municipal ‘Los Angeles State and County Arboretum’, e o Jardim Botânico.
Toda a Califórnia tem o maior interesse para nós pela semelhança do clima. Combinei, tanto em Los Angeles como em Berkeley, troca de sementes, e espero conseguir também troca de plantas vivas, porque algumas espécies que lá se cultivam, teriam o maior interesse para nós, debaixo do aspecto decorativo e económico.
Sendo neste momento o problema da mão de obra um dos maiores da América, todas as técnicas tendem a evitá-la. Por isso, não só a rega de todos os jardins públicos e mesmo particulares, se faz por aspersão, accionada automaticamente, como também a consociação das plantas tende a reduzir ao máximo a intervenção dos jardineiros.
Parti em seguida para Phoenix, no Estado do Arizona. Visitei a cidade e o seu Jardim do Deserto, e fui numa excursão ao Parque Nacional do Grande Canyon, tendo outra vez ocasião de apreciar toda a evolução das formações vegetais desde o deserto de cactos até à mata de coníferas de altitude no Grande Canyon.
Dirigi-me depois a New Orléans, onde visitei a cidade durante dois dias, partindo em seguida para Athens, na Georgia, onde fui recebido pelo Director do Department of Landscape Architecture, do College of Agriculture da Universidade da Georgia, Professor Hubert B. Owens. Novamente voltei a trabalhar com os estudantes em correcções de trabalhos, discussão de temas de Urbanismo e realizei três lições sobre os temas:
1) The Landscape Architect
2) Regional Planning
3) Water in the Plant and the Soil
e uma conferência pública com o titulo: ‘Old Portuguese Gardens and Landscapes’ que foi presidida pelo Reitor da Universidade numa sessão especial do Curso ‘Landscape Design School’.
Fui convidado a assistir em Chatanooga, ao encontro anual da Secção de Sudeste da Associação dos Arquitectos Paisagistas Americanos, a quem dirigi algumas palavras como presidente eleito da Federação Internacional dos Arquitectos Paisagistas.
Visitei depois da reunião diversos jardins do principio do Sec. XIX e fui convidado para visitar o Tennessee e o Parque Nacional das Smoky Mountains. No regresso visitei uma escola de Agricultura e uma propriedade particular, bem como diversas casas do período Colonial da Georgia.
Visitei também com os alunos a ‘South Piedmont Experiment Station’ Watkinsville que trabalha com o College of Agriculture sob a direcção do Dr. A. R. Bertrand e estuda problemas de controle da erosão, fisiologia vegetal aplicada e agricultura geral. Tive ocasião de ver em funcionamento um aparelho de grande interesse para medir o grau de erodibilidade do solo com diversos revestimentos e o escoamento superficial para cada caso.
Finalmente dirigi-me a Knoxville, no Estado do Tenessee Valley Administration para além de ter podido ver alguns filmes de demonstração, visitei alguns dos principais centros do Tennessee, como Oakridge e Fort. Finalmente visitei o Parque Nacional das Smoky Mountains, célebre pela sua vegetação, sobretudo as extensas matas com subbosque de Rhododendron catambiense e a profusão de plantas herbáceas vivazes que começavam naquele momento a florir. Tive a oportunidade de estudar a organização de visitantes, dos parques de campismo etc.
De toda a viagem trouxe uma colecção de cerca de 400 diapositivos coloridos sobre assuntos de paisagem e de urbanismo.
No dia 21 de Abril regressei a Lisboa.

Extraído de Relatório de viagem dirigido ao Presidente do Instituto de Alta Cultura, sem data. Recolha de Teresa Andersen.